Lourenço (Selton Mello) ganha a vida comprando objetos usados e revendendo-os. Com o passar do tempo, Lourenço vai ficando cada vez mais frio e começa a acreditar que as pessoas também estão à venda. Filme do diretor Heitor Dhalia (Nina), a obra é baseada no livro homônimo do autor Lourenço Mutarelli.
Este é o filme para quem aprecia o cinema nacional, independente e sobretudo o talento indiscutível de Selton Mello. O ator dá vida a um personagem que às vezes nos faz sentir raiva, e outras vezes piedade. A solidão e amargura ao qual Lourenço esta habituado, são atribuídas por ele pelo fato de que para ter que comprar as coisas das pessoas, ele deveria ser distante, impessoal, caso contrário não obteria lucro.
O interessante nesse personagem, é que ao mesmo tempo em que ele insensível, pequenas coisas o deixam obcecado como por exemplo: a bunda, o cheiro do ralo, o olho de vidro, e algumas falas de clientes que saem contrariados com o tratamento que tiveram, mas acabam fazendo Lourenço refletir. "A vida é dura", e a insistência de explicar para as pessoas que aquele cheiro vinha do banheiro, tudo isso porque um de seus clientes disse: "o cheiro vem de você."
A relação com a garçonete é cômica. Lourenço enxerga a bunda da moça como mais uma mercadoria, algo que ele poderia perfeitamente pagar e simplesmente olhar. Talvez Lourenço seja a caricatura do homem capitalista, um homem que não sente, não se relaciona com ninguém, apenas paga para ter aquilo que deseja.
E sua obsessão com o ralo? Algo tão simbólico, mas que fez com que Lourenço perdesse o controle sobre si mesmo e das pessoas que julgava controlar. Com o tempo, o cheiro passa a ser viciante, e Lourenço culpava os objetos usados, o fedor do ralo, o abandono do pai, pela sua natureza fria e hostil, vejo Lourenço como uma eterna vítima dos seus próprios atos que por vezes são inexplicáveis e um escravo do poder, dos objetos.
Se você gosta de filmes independentes que retratam as dificuldades do ser humano, esse é o filme ideal. Selton Mello esta impecável, sem dúvidas um dos melhores atores da nossa geração. Palmas para o cinema nacional!
"Não me importo com ninguém, só não quero que pensem que o cheiro do ralo é meu."
Obs: Gostaria de dedicar esta resenha ao Marcos (Clark), um apaixonado pelo cinema brasileiro, e foi graças a ele que conheci esta pérola. Clark, nunca nos conhecemos pessoalmente, mas onde quer que você esteja, espero que tenha gostado do meu trabalho.
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