Pura é a história de Katarina com 20 anos de idade, e que não tem muito na vida. Sua mãe é alcoólatra, e muitas vezes elas não têm dinheiro nem mesmo para o mercado. O único sentido que há na vida de Katarina é a paixão que nutre por Mozart. Obcecada com a música clássica, ela consegue um emprego de recepcionista em um conservatório, e conhece o maestro Adam que lhe apresenta o mundo da filosofia e música erudita. Logo os dois tornam-se amantes, no entanto, Adam é casado e o que para ele foi apenas uma aventura, para Katarina foi uma paixão sincera que trará sérias consequências.
Filme sueco de 2010 da diretora Lisa Langseth e estrelado por Alicia Vikander (como Katarina).
Bem, eu assisti este filme já faz duas semanas e não me encontrei preparada para escrever sobre ele. Explico mais adiante. Ontem pude revê-lo com um olhar mais frio e cauteloso, prestando atenção nos detalhes técnicos (embora eu não seja muito boa nisso, devo confessar). Para quem gosta de um drama bem construído, recheado de filosofia, citações literárias e muita música clássica, estou certa de que este é o filme perfeito. Porque de fato "Pura" é um belíssimo filme de uma cineasta ainda em início de carreira e conta com uma interpretação ímpar da jovem Alicia Vikander que vive a inocente e rebelde Katarina.
Toda a trilha, as menções filosóficas, parecem mesmo ter sido escolhidas à dedo para contar a história de uma jovem que é apresentada a um mundo que ela não fazia ideia que existia: Kierkegaard, Beethoven, Karavajo, o poeta Gunnar Eklöf, e então nos perguntamos: qual o problema? Nenhum. Não existe problema em querer conhecimento, no entanto, o provedor deste conhecimento cobra de Katarina, Adam o maestro respeitado, casado e bem conceituado, não estava ensinando apenas, ele estava seduzindo. E Katarina entrega-se àquilo que ela pensava ser uma paixão, sua fascinação é tanta que ela passa até mesmo a ignorar o próprio namorado, julgando que ele não era suficiente para ela, culminando então no rompimento da relação.
Os leitores na certa estão se perguntando os motivos do título da resenha. Bem: "Coragem é a medida da vida" - Kierkegaard. Esta é a frase que rege o filme, e talvez a que irá reger toda a minha escrita, porque acredito que o escritor precisa ter coragem e acima de tudo ser honesto. E eu não seria totalmente honesta se não explicasse o verdadeiro motivo do meu incômodo quando assisti este filme.
Eu tive um Adam na minha vida. Um erudita esnobe que hoje leciona na PUC Minas e acredita realmente que isso é uma grande coisa. Assim como Adam, ele me apresentou à filosofia, a um mundo que eu não conhecia. Eu tinha apenas 17 anos, e ele já era um homem feito.
Durante doze anos esse homem me iludiu com palavras ao vento, dizia que me amava, mas que "os casais que se amam devem ficar separados. Ora meu caro professor, "a coragem é a medida da vida", não leu Kierkegaard? Ontem quando o filme terminou, me fiz a seguinte pergunta: o que você e Adam fizeram por um mundo melhor? Nada. E a sua vida é uma repetição daquilo que você era há mais de doze anos!
O filme nos faz pensar nas pessoas que ficam paradas em frente a televisão e nada fazem de suas próprias vidas, mas também sentimos um certo asco dessa arrogância travestida de intelectualidade que tem o único intuito a autoafirmação! Porque esse mundo acadêmico e clássico é tão elitizado que parece mais uma sociedade secreta. Jamais vou esquecer das palavras de Adam para a jovem Katarina: "não se meta com a filosofia se você não esta preparada para a realidade." Você também teria dito isso para mim, professor?
Não tenho mais 17 anos. Sou amante do cinema, da literatura, sei apreciar uma boa música. Minha loucura transcende meu coração e sai pelos meus poros. Também sou erudita, no entanto, não uso o meu saber para me aproveitar de ninguém. Se não for para fazer o bem, é melhor ser um ignorante na frente da TV.