sábado, 15 de novembro de 2014

Pixote: A Lei do Mais Fraco



Olá leitores! Depois de muito tempo venho aqui comentar sobre este clássico do nosso cinema dirigido por Hector Babenco (Carandiru) e estrelado por Fernando Ramos da Silva, Marília Pêra e Jardel Filho.
A história é sobre um garoto que abandonado pelos pais, vive nas ruas praticando pequenos furtos, até ser enviado para um reformatório onde é obrigado a conviver com a truculência dos policiais e jovens deliquentes. Saindo do reformatório, torna-se um traficante de drogas e assassino com apenas 11 anos de idade.
Não há dúvidas de que Hector Babenco conseguiu transmitir com muito realismo a dura realidade de crianças e jovens que vivem nas ruas, e isto no início da década de 80! E ainda hoje provoca discussões sobre o "excesso de realismo", pois de fato é um filme que choca.
O que me deixa intrigada é que esse "excesso de realismo" quando vindo de fora é aplaudido, e torna-se um "cult", mas quando se trata do nosso cinema, são sempre os mesmos comentários: "filme nacional só tem palavrão, filme nacional só mostra favela, etc". Creio que seja um desmerecimento com o nosso cinema (que por sinal é muito bom), a arte além de entreter, ela deve levar o sujeito a pensar, refletir, e se você não esta disposto a isto, não assista Pixote.
Ótimas atuações, sobretudo de Fernando Ramos da Silva (Pixote), que conseguiu mostrar com sua inexperiência como ator, tudo o que o personagem exigia: medo, carência, coragem, rebeldia, e uma naturalidade incrível diante das câmeras.
É claro que choca ver uma criança com uma arma nas mãos e exposta aos mais diferentes tipos de violência. Na sua primeira noite no reformatório, Pixote presencia um estupro, ele vê seus amigos serem mortos pelos policiais. Mas não vamos esquecer de que é esta a dura realidade de muitas crianças.
Quando consegue sair do reformatório com alguns amigos, e de volta às ruas, ele volta para os pequenos furtos, mas desta vez envolve-se também com um grande traficante: Cristal (interpretado pelo saudoso Tony Tornado) que aproveita do fato dos garotos serem menores de idade, e os alicia para que sejam pequenos traficantes.. 
Em meio a sonhos e brincadeiras que simulavam assaltos, assassinatos, o filme muito me lembrou do documentário realizado por MV Bill e Celso Ataíde: Falcão: Meninos do Tráfico. São crianças abandonadas pela família, sociedade e que não encontram outra saída a não ser a do crime, por acreditarem que este é o caminho mais fácil. E nem preciso comentar sobre os famigerados reformatórios, que no caso de Pixote, deixa bem claro: não ressocializa, são fábricas de marginais, crianças tratadas com o maior desprezo possível, afinal, eles estão à margem da sociedade.
Um outro aspecto que muito me chamou atenção foi a relação de Pixote e a prostituta Sueli (Marília Pêra). Quando os dois se veem sozinhos, Pixote volta a ser apenas uma criança e Sueli o acolhe em seus braços como se fosse um bebê. E como um bebê, ele suga o seio de Sueli, não há nenhuma conotação sexual na cena, fica explícito que aquela criança queria uma mãe, pelo menos precisava de uma naquele momento. Sueli se compadece, mas em seguida o afasta afirmando "não gostar de crianças", no entanto, Sueli pouco tinha a oferecer para aquele garoto tão carente e tão judiado pela vida.


O filme foi premiado no mundo inteiro, e Fernando teve seus cinco minutos de fama. Acredito que seja válido destacar que Fernando não era um menino de rua, ele tinha mãe, e trabalhava para ajudar em casa, e foi durante o trabalho que uma produtora o descobriu. Após o sucesso do filme, ele ainda tentou seguir na carreira de ator, mas não conseguiu. Influenciado pelos irmãos, entrou para a vida do crime e foi covardemente assassinado por três policiais aos 19 anos, deixando uma esposa e uma filha pequena. Sua curta trajetória pode ser vista no filme: "Quem matou Pixote?", baseado no livro escrito por sua esposa: "Pixote Nunca Mais"
Destaque para as participações de: Elke Maravilha, o grande ator Rubens de Falco (já falecido) e Beatriz Segall.

Cotação: *****

Link para assistir online: Pixote: A Lei do Mais Fraco

terça-feira, 18 de março de 2014

Ninfomaníaca - Volume I e II



Sem muitas apresentações porque acho totalmente desnecessário, considerando a grande expectativa do público e a jogada de marketing sobre o novo filme do cineasta dinamarquês Lars Von Trier, a história é sobre Joe (Charlotte Gainsbourg) encontrada desmaiada por Seligman (Stellan Skargard), que presta ajuda à desconhecida, levando-a para casa. Ela então começa a contar sua vida, suas experiências sexuais.
Estou ciente de que minha crítica será bastante simplista, mesmo porque eu não consegui me familiarizar com o cinema de Lars Von Trier, existem muitas simbologias e muitas de suas crenças estão contidas em alguns de seus filmes. E Ninfomaníaca não foge à regra.
Particularmente tive curiosidade de assisti-lo, porque basicamente os filmes que falam da compulsão sexual em mulheres sempre me soou muito machistas. A única personagem que consegui identificar realmente o vício pelo sexo, e o sofrimento que qualquer vício traz, foi Anita, filme homônimo, sueco, produzido na década de 70, do diretor Torgny Wickman e acabou tornando-se um cult movie.
Tive curiosidade de ver como Lars Von Trier mostraria a compulsão sexual, se seria com a mesma seriedade que Steve McQueen em Shame (apesar do protagonista ser um homem), ou trataria a personagem apenas como uma mulher que gosta de sexo e por esta razão é chamada de ninfomaníaca. Existe uma clara diferença entre gostar de sexo, e ser viciado.
Sim, o filme é sobre compulsão e não há uma razão aparente para que Joe desenvolvesse essa dependência. Ela não procurava amor, ela não queria ser valorizada. Como a própria personagem diz em um grupo de apoio no Volume II: "preciso sentir algo dentro de mim, mesmo que seja uma tonelada de lixo.
Ela conhece Seligman, que escuta atentamente suas histórias, desde quando ela era uma criança e descobriu sua genitália, até sua fase jovem em que ela e uma amiga se prostituíam em trens para conseguir saquinhos de chocolate.
As intervenções de Seligman são interessantes. No entanto, o encontro dos dois foi algo forçado. Quando Joe começa a falar, e Seligman intervém, isso logo nos remete a uma sessão terapêutica, ou melhor psicanalítica. Seligman é Freud e Joe sua paciente deitada e ferida em uma cama (divã).
No primeiro volume, Seligman faz paralelos interessantes entre a vida sexual de Joe, a pescaria, música e literatura. Ele é um homem sozinho assim como Joe, e o que os dois têm em comum? Joe é viciada em sexo e seu ouvinte em livros. Percebemos então que cada ser humano busca o prazer, a satisfação, o gozo, e isto não esta ligado ao ato sexual.
Os dois volumes têm seus pontos altos e baixos. Creio que no primeiro filme, o relacionamento entre Joe e a mãe poderia ter sido mais explorado, esse foi um dos maiores "buracos" que encontrei no roteiro. O pai era presente, enquanto que a mãe sequer teve qualquer contribuição na formação da personagem. Mãe ausente? Indiferente? Trier fez isto de propósito? Fica à critério de quem assiste...
A personagem foi bem construída. É ambígua. Em um momento sente vergonha de si mesma, sofre, chora, e depois sente-se no direito de "desfrutar sua luxúria". Ela passa por crises de abstinência, ela não ama, ela é o que ela mesma se define: "uma marginal sexual".
Com o tempo ela não sente mais prazer e sua busca incessante a leva para um caminho de desespero, até  perder completamente o medo e os escrúpulos. A ferida na vagina (uma referência de Lars a "Anticristo"), Joe explica que esta ferida surgiu devido às constantes idas a um praticamente de sadomasoquismo que ela conheceu durante sua procura incansável pelo orgasmo. O sangramento no clitóris pode ser uma simbologia usada por Lars Von Trier como forma de punição por não ter sido boa esposa e mãe. Algumas aldeias africanas cortam o clitóris da menina para que o prazer lhe seja negado, Joe "corta" o seu prazer, embora necessite dele.


É um filme sobre sexo. Sexo que pode ser usado para conquistar, magoar, chantagear. Sexo que move o mundo. Mas quando digo isso não me refiro a uma mulher que usa sua sensualidade para ter o que quer. Trata-se de uma mulher que sofre com sua solidão porque não se encaixa na sociedade, é egoísta e às vezes fria, o que pode gerar antipatia em algumas pessoas, mas não nos esqueçamos de que Joe é compulsiva!
Com diálogos interessantes, algumas cenas ocas, uma bela fotografia, Lars Von Trier conseguiu ir além da patologia. Ninfomaníaca mexe com nosso emocional e coloca em xeque os valores da sociedade.

Cotação: 4 estrelas

Link para assistir o Volume I: Ninfomaníaca - Volume I
Link para assistir o Volume II: Ninfomaníaca - Volume II

sábado, 15 de março de 2014

Heli



Dirigido pelo cineasta mexicano Amat Escalante, vencedor do prêmio de melhor diretor no festival de Cannes de 2013 por Heli, o filme se passa em uma cidade no interior do México dominada pelo tráfico de drogas. O personagem Heli é um rapaz que vive em uma pequena casa com sua esposa, filho, sua irmã Estela de 12 anos e seu pai.
Todos os problemas começam a aparecer por causa do namoro de Estela e Beto, um cadete que se envolve com o traficantes. Heli então vê sua vida mudar drasticamente.
Este é um filme para quem tem estômago forte. Escalante conseguiu produzir um filme que chocou pela sua crueza, não poupou nas cenas de violência nem mesmo com animais, e você assiste àquilo tudo e se pergunta se coisas do tipo acontecem.
Não acho que o diretor tenha querido mostrar o pior do México. Acredito que sua intenção era mostrar o que acontece no mundo inteiro: a garotinha que se apaixona por um rapaz mais velho, sonha em se casar como em um conto de fadas, não mede esforços para ajuda-lo (mesmo que isso implique colocar a segurança da sua família em risco), para só depois perceber que a realidade é bem diferente.
O filme choca em todos os sentidos. A fotografia árida e ácida, a falta de perspectiva dos personagens, até mesmo o tipo físico de Estela. Ela tem corpo de criança, seu namorado já é um homem e quer ter relações sexuais com ela, mas ela não quer. Quer casar. Quer viver um sonho encantado. Sua mentalidade ainda é de uma menina.
Falo de Estela, porque apesar do filme levar o nome de Heli, a história basicamente baseia-se nesse romance idealizado da menina e da violência. Vejo que na verdade, as duas são protagonistas. O que antes era amor e sonho, apesar da pobreza, reduziu-se ao ódio, desespero e sede de vingança.
Escalante não poupou nas cenas de tortura, nem mesmo quando o cachorrinho de Estela é estrangulado bem na sua frente! No entanto, outras cenas poderiam ter sido facilmente descartadas.
Heli é o retrato da pobreza, da violência. Hipocrisia dizer que as cenas são desnecessárias, se convivemos com isso todos os dias. A questão é que fingimos não acontecer. É sim um filme polêmico que eu não indico para todos. Mas ainda assim consigo enxergar beleza em meio ao caos que ainda estou digerindo, porque a arte serve para refletirmos sobre nossa realidade, nosso contexto e nossa própria existência.

Cotação: 3 estrelas

Link para assistir online: Heli

Obs: Toca dos Cinéfilos agora é site. Se você quiser assistir este e outros filmes, basta se registrar. É fácil, rápido e gratuito.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

12 Anos de Escravidão



Filme de 2013 dirigido por Steve McQueen (Shame), a obra é baseada em fatos reais e conta a história de Solomon Northup (brilhantemente interpretado pelo ator britânico Chiwetel Ejiofor), um negro livre que vivia com sua mulher e filhos na época da escravidão dos EUA, até receber uma proposta falsa de trabalho e ser sequestrado para ser vendido como escravo para o então impiedoso fazendeiro (Michael Fassbender).
Começa então para Solomon 12 anos de trabalhos forçados e a luta para provar que ele não era um escravo.
Creio que qualquer história que relate torturas com seres humanos sempre é emocionante e chocante. Este filme não é mais um filme sobre escravidão. A história de Solomon e esses sequestros que aconteceram são pouco conhecidos, mas quando o filme termina você chega à conclusão de que isso não era difícil de acontecer. Motivo: negros livres, com cartas de alforria não representava muita coisa em uma época que negro não era gente. Imagino que muitos passaram por necessidade (o que não era o caso de Solomon, já que sabia ler e escrever e ainda era um exímio violonista), mas imaginemos aqui no Brasil com o fim da escravidão. É sabido que muitos ex-escravos não tinham para onde ir e não conseguiam emprego.
Imagino que o mesmo aconteceu naquela época. Muitos negros livres cheios de falsas esperanças foram vítimas desses sequestros, algo brutal, toda forma de escravidão e tortura é brutal.
O filme foi muito bem construído e dirigido, sem cair na pieguice. Steve McQueen conseguiu dar realismo às cenas de açoite e aos trabalhos forçados aos quais os escravos eram submetidos.
Vemos Solomon e pensamos que ele esta resignado com aquela vida. Mas Chiwetel Ejiofor tem os olhos tão expressivos, e em muitas cenas ele não diz nada, aliás, ele diz, mas diz com os olhos e nós entendemos o que eles falam: "eu vou lutar, vou ver minha família de novo. Isso vai acabar." Sua expressão facial é algo fantástica!
O cenário e o figurino também merecem destaque. Tudo foi minuciosamente pensado para retratar uma parte da história que merecia ser contada. E tenho que destacar o pequeno papel de Brad Pitt que interpreta um abolicionista, e também foi um dos produtores do filme.
Não tenho dúvidas de que Steve McQueen já entrou para o roll dos grandes diretores. Depois do excelente "Shame" eu não poderia esperar nada inferior que viesse dele, sem sombra de dúvidas um grande cineasta que ousou contar a história de um grande homem que foi Solomon e que vale à pena conhecer.

"Eu não quero sobreviver, eu quero viver!"

Cotação: 4 estrelas
Link para assistir online: 12 Anos de Escravidão

sábado, 25 de janeiro de 2014

Azul é a cor mais quente



Filme francês de 2013 dirigido por Abdellatif Kechiche ( Vênus Negra),estrelado por Adèle Exachorpolous e Léa Seydux, a obra é uma adaptação dos quadrinhos escritos e desenhadas por Julie Maroh, e tem o título original de "Le Blue este une Couleur Chade".
A história é sobre Adèle que se apaixona por Emma, quando andando tranquilamente pelas ruas de Paris, ela encontra uma garota com o cabelo azul e a partir desse momento, Adéle fica fixada na misteriosa mulher com madeixas coloridas, até que finalmente o romance concreto acontece.
Bem, para quem não sabe, "Azul é a cor mais quente" foi um dos filmes mais aclamados de 2013. Entrou para a lista do ano como "um dos melhores", ganhou vários prêmios e devo destacar aqui primeiramente a atuação brilhante de Adèle Exachorpolous, uma jovem atriz que desempenhou sua Adèle de forma madura, dedicada e muito competente. Não há dúvidas de que é uma atriz promissora.
Originalmente o nome do filme é "La vie d'Adèle", o que em tradução livre signficaria "A vida de Adèle", é um forte paralelo com o livro que a adolescente esta lendo no início: "A vida de Marianne", e que segundo ela mesma estaria adorando o livro e não sabe exatamente explicar a razão, mas percebe-se uma certa identificação entre Adèle e Marianne. Um outro paralelo interessante entre a literatura e o cinema, Adèle aprofundada nos estudos enquanto o professor discorria sobre um livro que aparentemente falava do primeiro amor, e em seguida vemos a jovem completamente fascinada por Emma. A troca de olhares foi recíproca.
Quero deixar claro que não conheço a HQ e nem a filmografia de Kechiche. Por isso não posso dizer o quanto o filme foi fiel aos quadrinhos. Não se trata de um filme pelos direitos dos casais homoafetivos, ele não tem esta linha política, a história nada mais é que a relação entre duas meninas que se apaixonam e o declínio desta paixão. Nada de novo. O que foi retratado para as telas do cinema foi o trivial, e devo ser honesta: existem vários filmes que discutem as relações sejam elas heterossexuais ou homoafetivas de uma forma bem mais interessante. Obra longa demais para retratar o óbvio.
Adèle é uma menina que torna-se mulher do dia para a noite, mas particularmente não consegui enxergar esse amadurecimento na personagem. Sempre com o mesmo cabelo desalinhado, parece deslocada de todos os lugares que frequenta, é uma personagem que parece estar buscando algo.
Diferentemente, Emma já é uma mulher mais velha, faz faculdade de belas artes, é intelectualizada, resolvida sexualmente e sabe onde quer chegar profissionalmente. E era isso que ela queria de Adèle: que ela buscasse, ousasse. Mas as duas já morando juntas, Adèle se contentava em cozinhar para sua amada e trabalhar como professora. Nada contra os professores, até porque sou uma! Mas logo no início do filme o que vi foi uma garota com opinião, que escrevia, gostava de ler, e isso parece ter sido deixado de lado quando se envolveu com Emma. 
A jovem perdida vinha de uma família tradicional. E eu gostaria de ter visto como foi o rompimento com esse tradicionalismo. E aí fica à cargo de quem assiste interpretar: será que ela enfrentou a família ou mentiu para morar com Emma?
Um ponto delicado que pretendo discutir agora ( e para quem viu o filme deve estar louco para ler), é sobre as polêmicas cenas de sexo entre duas garotas. Quem acompanha meu trabalho, sabe que já assisti vários filmes com temática LGBT (alguns excelentes por sinal), por isso, nada contra as cenas de sexo. Eram necessárias para o enredo, para o contexto.
O que questiono foi a exposição dos corpos das atrizes, e cenas que são dignas de filme pornô. Cenas mal dirigidas, que causam sim um certo desconforto porque você vai assistir um drama e de repente se depara com sexo puramente explícito! Desnecessário? Sim. No caso de "Azul é a cor mais quente", a insinuação ao sexo cairia melhor, e devo destacar aqui que a própria autora dos quadrinhos não aprovou as tais cenas, mas elas foram ao ar assim mesmo porque segundo consta Julie Maroh não foi consultada em nenhum momento durante as gravações do filme.
Alguns podem achar que estou sendo hipócrita, mas não estou. Não tenho problemas com sexo, tenho problemas com excesso, e o que aconteceu com "Azul é a cor mais quente", é que duas mulheres fazendo amor ganhou muito mais destaque que outros assuntos que o filme aborda. Como por exemplo a discriminação que Adèle sofre no colégio simplesmente por conversar com Emma. Não vi nenhum comentário que abordasse tal cena. Os comentários tanto de mulheres quanto de homens é sobre a excitação em ver as duas. As atrizes até fizeram um ensaio "lesbian chic". Cristo! Não sei qual é a orientação sexual das meninas e nem me importa, mas honestamente? Discutir um único ponto sobre um filme que tem quase três horas de duração, isso me faz perguntar se é apenas fantasia ou se o lesbianismo virou "modinha". Seja qual for a resposta, é deprimente.
Lembro-me quando foi lançado "O Segredo de Brockbreak Montain" do diretor Ang Lee. Gerou muita polêmica e piadinhas sobre o amor entre os dois cowboys, e o filme nada mais é que uma história de amor. PONTO. Mas aí tiveram os desocupados de plantão que fizeram uma montagem com o cartaz do filme colocando duas atrizes, aí não haveria piada. E isto sim é hipocrisia. Mulheres lésbicas viraram fantasia de 90% dos homens, e é lamentável que filmes com temáticas LGBT sejam vistos para satisfazer onanistas de plantão. (REDTUBE esta aí para isso).
Não sou de ler críticas de filmes porque gosto de formar minha própria opinião. Mas uma em especial que foi publicada no site Pragmatismo Político me chamou atenção até a metade. Tudo estava indo bem, quando me deparo com a seguinte frase: "não há nada mais bonito que duas mulheres fazendo algo bonito".
Natalie Portman disse certa vez: " a indústria do cinema é predominantemente masculina, e nós atrizes temos que nos submeter". Esta frase cabe perfeitamente em "Azul é a cor mais quente". Exposição em demasia de corpos femininos nus. Nada contra a nudez e o sexo, mas o excesso fica cansativo, tira o foco da obra e acaba sendo enfadonho. No filme brasileiro "Como Esquecer", Ana Paula Arósio faz o papel de uma professora lésbica que foi abandonada pela companheira. Há um beijo lésbico e uma cena muito sutil entre ela e uma pintora. Não precisou de mais nada para que o expectador compreendesse a mensagem sem que isso desfocasse o contexto do filme. Palmas!
"Azul é a cor mais quente" não merecia estar na lista dos melhores de 2013. Filme longo para contar uma história trivial, mas que poderia ter um roteiro mais interessante e que pudesse proporcionar discussões acerca da homossexualidade e das relações amorosas sejam héteros ou homos.

Cotação: 2 estrelas

Link para assistir online: Azul é a cor mais quente