segunda-feira, 20 de maio de 2013

Pura: Quando cinema e realidade se entrelaçam...


Pura é a história de Katarina com 20 anos de idade, e que não tem muito na vida. Sua mãe é alcoólatra, e muitas vezes elas não têm dinheiro nem mesmo para o mercado. O único sentido que há na vida de Katarina é a paixão que nutre por Mozart. Obcecada com a música clássica, ela consegue um emprego de recepcionista em um conservatório, e conhece o maestro Adam que lhe apresenta o mundo da filosofia e música erudita. Logo os dois tornam-se amantes, no entanto, Adam é casado e o que para ele foi apenas uma aventura, para Katarina foi uma paixão sincera que trará sérias consequências.
Filme sueco de 2010 da diretora Lisa Langseth  e estrelado por Alicia Vikander (como Katarina).
Bem, eu assisti este filme já faz duas semanas e não me encontrei preparada para escrever sobre ele. Explico mais adiante. Ontem pude revê-lo com um olhar mais frio e cauteloso, prestando atenção nos detalhes técnicos (embora eu não seja muito boa nisso, devo confessar). Para quem gosta de um drama bem construído, recheado de filosofia, citações literárias e muita música clássica, estou certa de que este é o filme perfeito. Porque de fato "Pura" é um belíssimo filme de uma cineasta ainda em início de carreira e conta com uma interpretação ímpar da jovem Alicia Vikander que vive a inocente e rebelde Katarina.
Toda a trilha, as menções filosóficas, parecem mesmo ter sido escolhidas à dedo para contar a história de uma jovem que é apresentada a um mundo que ela não fazia ideia que existia: Kierkegaard, Beethoven, Karavajo, o poeta Gunnar Eklöf, e então nos perguntamos: qual o problema? Nenhum. Não existe problema em querer conhecimento, no entanto, o provedor deste conhecimento cobra de Katarina, Adam o maestro respeitado, casado e bem conceituado, não estava ensinando apenas, ele estava seduzindo. E Katarina entrega-se àquilo que ela pensava ser uma paixão, sua fascinação é tanta que ela passa até mesmo a ignorar o próprio namorado, julgando que ele não era suficiente para ela, culminando então no rompimento da relação.


Os leitores na certa estão se perguntando os motivos do título da resenha. Bem: "Coragem é a medida da vida" - Kierkegaard. Esta é a frase que rege o filme, e talvez a que irá reger toda a minha escrita, porque acredito que o escritor precisa ter coragem e acima de tudo ser honesto. E eu não seria totalmente honesta se não explicasse o verdadeiro motivo do meu incômodo quando assisti este filme.
Eu tive um Adam na minha vida. Um erudita esnobe que hoje leciona na PUC Minas e acredita realmente que isso é uma grande coisa. Assim como Adam, ele me apresentou à filosofia, a um mundo que eu não conhecia. Eu tinha apenas 17 anos, e ele já era um homem feito.
Durante doze anos esse homem me iludiu com palavras ao vento, dizia que me amava, mas que "os casais que se amam devem ficar separados. Ora meu caro professor, "a coragem é a medida da vida", não leu Kierkegaard? Ontem quando o filme terminou, me fiz a seguinte pergunta: o que você e Adam fizeram por um mundo melhor? Nada. E a sua vida é uma repetição daquilo que você era há mais de doze anos! 
O filme nos faz pensar nas pessoas que ficam paradas em frente a televisão e nada fazem de suas próprias vidas, mas também sentimos um certo asco dessa arrogância travestida de intelectualidade que tem o único intuito a autoafirmação! Porque esse mundo acadêmico e clássico é tão elitizado que parece mais uma sociedade secreta. Jamais vou esquecer das palavras de Adam para a jovem Katarina: "não se meta com a filosofia se você não esta preparada para a realidade." Você também teria dito isso para mim, professor?
Não tenho mais 17 anos.  Sou amante do cinema, da literatura, sei apreciar uma boa música. Minha loucura transcende meu coração e sai pelos meus poros. Também sou erudita, no entanto, não uso o meu saber para me aproveitar de ninguém. Se não for para fazer o bem, é melhor ser um ignorante na frente da TV.




terça-feira, 7 de maio de 2013

Pink Flamingos: O grotesco para cutucar a ferida?



Pink Flamingos é um filme que poucos conhecem. Ele foi lançado em 1972 pelo diretor John Waters no circuito underground. Um filme feito com baixíssimo orçamento que conta a história da Drag Queen Divine conhecida como a pessoa mais asquerosa do mundo. Ela mora em um trailler com seu filho, uma companheira de viagem e a mãe deficiente.
Divine e sua família entram em uma competição insana com outro casal para serem as pessoas mais asquerosas do mundo. Dentre as cenas bizarras esta a mais famosa de todas, Divine comendo fezes de cachorro, cena de incesto, sexo com uma galinha no meio e o nu frontal de um ator incluindo o close do ânus dele.
O filme causa repulsa até hoje. E por incrível que pareça tornou-se um cult, pois os jovens da época consideraram que ele estava tocando na ferida dos Estados Unidos. Seria um meio de criticar o sonho americano, a fama, e até mesmo a política.
Bem, não posso dizer que meu estômago ficou tranquilo enquanto eu assistia Pink Flamingos. De fato é um filme bizarro e grotesco. Mas alguns questionamentos me passaram pela mente enquanto eu o via, porque em algumas cenas, tive a impressão que não era bem questionar a sociedade o que John Waters queria, parecia que ele estava brincando de fazer cinema. Algo do tipo: "nós temos algum dinheiro, temos uma câmera, vamos pegar alguns desconhecidos, filmá-los e ver o que sai", tanto é que depois que o filme acaba tem uma entrevista com o diretor e ele diz claramente que muitas cenas ele não entendeu a razão.
Sei que posso ser apedrejada por escrever isso, porque sei que muitas pessoas cultuam esse tipo de filme, mas eu não posso deixar de perguntar se é realmente preciso realizar uma obra desse nível para questionar os valores de uma sociedade. Qual é a interpretação que eu posso fazer quando vejo uma mulher sentada na calçada comendo bosta de cachorro? Diretores isso é mesmo necessário?


Paralelamente, enquanto assistia Pink Flamingos me veio à mente Beleza Americana de Sam Mendes, que é um filme belíssimo, coloca em xeque o sonho americano, mas sem ser apelativo, pelo contrário, é bonito de se ver, é bonito de se ouvir, é bonito de sentir. A isto sim eu considero arte, que me perdoem os fãs de Pink Flamingos, mas devo lembrar que arte é algo totalmente subjetivo, e para mim, Pink Flamingos é um filme totalmente desnecessário. Não só pelas cenas de mau gosto, mas pela pobreza de roteiro, pela trilha sonora abominável.
Pink Flamingos é uma lição magistral do puro mau gosto. Eu não consegui ver nenhum propósito político, ao contrário de Saló 120 dias de Sodoma do italiano Pasolini que é igualmente polêmico, mas este sim tem questões políticas e você sabe que cada cena colocada ali foi necessária.
Não sou contra o choque. Sou contra o desnecessário, a perda de tempo. E Pink Flamingos é somente isso: uma total perda de tempo.

Link para assistir online: Pink Flamingos

Cotação: 1 estrela