quarta-feira, 31 de julho de 2013

Cisne Negro: A Eterna Luta entre o Bem e o Mal



Obra de 2011 dirigida por Darren Aronofsky (Requiem para um Sonho), com Natalie Portman (Nina Sayers), Vincent Cassel (Thomas), Mila Kunis (Lily) e Winona Rider (Beth).
O filme conta a história de Nina, uma jovem bailarina de uma companhia de dança que após anos de dedicação, recebe o papel da "rainha do lago" em uma versão do "Lago dos Cisnes".
Obcecada com sua perfeição, Nina entra em um universo de alucinações e paranoia, até chegar a um ato extremo.
Acredito que para entender um pouco este complexo filme, é preciso conhecer a história "O Lago dos Cisnes"
A princesa Odette é mantida em cativeiro por um feiticeiro que lança sobre ela um terrível encanto: durante o dia ela seria cisne, e somente à noite se tornaria humana. Para quebrar o feitiço, Odette deveria encontrar um homem que a amasse por toda a vida.
O príncipe Seigfried sai para caçar cisnes no seu 21° aniversário, noite em que também haveria um baile e ele deveria escolher sua esposa dentre as moças do reino. Já estava anoitecendo e o príncipe avista Odette no lago, encantado com sua beleza, ela conta seu segredo e ele jura amor eterno, no entanto, durante sua festa o bruxo von Rothbart aparece com a gêmea má de Odette, o Cisne Negro Odile.
Enfeitiçado pela sensualidade de Odile, Seigfried a escolhe, mas o príncipe descobre a farsa e vai atrás de Odette. Já quase amanhecendo, Seigfired pede perdão à sua amada e os dois se jogam no lago fazendo com que o bruxo perdesse todo o seu poder, e os dois amantes pudessem assim encontrar a libertação.
Este é um resumo do balé mais famoso do mundo e que inspirou Aronofsky a produzir a obra-prima que é Cisne Negro. Sempre admirei seu trabalho desde quando assisti ao experimental "PI", passando por filmes mais conhecidos como "Requiem para um Sonho", "Fonte da Vida" e "O Lutador".
A evolução técnica dos seus trabalhos é algo visível. Desde a escolha do elenco, até o figurino, maquiagem, mas tem pelo menos um aspecto que ele não muda: a câmera. Aronofsky filma os personagens de uma forma que o telespectador entre naquele mundo. Foi assim em todos os seus filmes, e não poderia ser diferente em Cisne Negro.
Com uma mega produção, elenco de primeira, Darren Aronofsky posiciona a câmera com esse seu jeito único, e nos faz entrar nas alucinações de Nina. Aliás, quem é Nina?
À princípio vemos uma moça pudica, extremamente centrada na dança e superprotegida pela mãe. Uma verdadeira princesinha. Nina não vive, não tem amigos, é a típica pessoa que pede desculpas até por sua existência.
Quando é escolhida para  interpretar a rainha dos cisnes, ela entra em total estado de obsessão e loucura, pois ela e Thomás sabiam que sua maior dificuldade seria a de interpretar o Cisne Negro. 
Certa vez li uma crítica à respeito deste filme que dizia o seguinte: "Aronofsky reduziu o trabalho das bailarinas ao sexo." Isso porque Thomas pede que Nina se masturbe, que se deixe levar, que viva! Não entendo de danças, mas discordei completamente desta frase. Ora, Nina interpretaria uma personagem virginal, pura e outra maléfica, sexy, é claro que esse lado precisava ser trabalhado, ou melhor, vivenciado!
Tanto na história original do Lago dos Cisnes como no filme Cisne Negro, vejo claramente a eterna luta entre o bem e o mal. O bem e o mal que todos carregamos dentro de nós porque somos humanos e buscamos desesperadamente para que ambos estejam em equilíbrio, caso contrário sucumbimos. Cisne Negro foi genial em mostrar esse embate, até mesmo na polêmica, mas imaginária, cena lésbica entre Nina e Lily em que fica clara a "transformação de Odette para Odile".


Outro aspecto que é mostrado é a rivalidade existente nos bastidores das companhias de dança, inveja, a troca de bailarinos como se fossem bonecos, Beth foi trocada por Nina sem o seu consentimento. A luta para manter o peso ideal. No balé e no mercado da moda é onde estão a maior incidência de bulimia e anorexia. Não é preciso ser especialista em saúde mental para saber que Nina sofria de bulimia, tudo pela arte, tudo pela perfeição, tudo para não ser descartada.


E quanto a Thomas? Thomas é o professor impiedoso que exige o máximo de Nina. Vincent Cassel ficou muito bem no papel de canastrão sádico.
E para quem criticou o Oscar de Natalie Portman só tenho uma coisa a dizer: O Lago dos Cisnes é um dos balés mais difíceis de representar justamente porque a bailarina principal precisa representar Odette/ Odile. É claro que Aronofsky precisava de uma atriz que além de ter estudado balé (Portman não faz todas as cenas, há dublês), ela também teria que ser capaz de representar o bem e o mal. Natalie simplesmente brilhou. Se você ainda não assistiu, confira você mesmo!

Link para assistir online: Cisne Negro

Cotação: 5 estrelas

sábado, 27 de julho de 2013

Amor e Dor: reduzindo a imagem da mulher ao nada


Filme dirigido e escrito  pelo cineasta chinês Lou Ye ( Borboleta Púrpura), a película conta a história da chinesa Hua (Corinne Yam) que vai para Paris estudar, e acidentalmente conhece o construtor civil Mathieu ( Tahar Rahim), homem rude e sem qualquer instrução, no entanto, as diferenças culturais não impedem que os dois iniciem uma relação doentia. Filme de 2011.
Antes de começar a falar do filme, creio que o nome deveria ser "O que as mulheres não podem aceitar dos homens", ou "Eu sou uma idiota e não tenho amor próprio", e por aí vai. Porque entre Hua e Mathieu poderia existir todos os tipos de sentimentos, menos amor. Não pelo que eu particularmente entendo como amor, aquele que cuida, que respeita, que quer ver o outro feliz. Em momento algum Mathieu fez isso por Hua. É o típico homem machista e egocêntrico.
Mas vamos por partes. Já no início do filme Hua aparece implorando amor a um ex-namorado que ela conheceu em Pequim, e que não queria mais nada com ela na França. Pressupõe-se então que Hua mudou-se para França apenas por causa deste homem. Ela sai desorientada pelas ruas de Paris, quando é atingida acidentalmente por uma barra de ferro que Mathieu segurava e é aí que os dois se conhecem.
Mesmo o primeiro encontro sendo para mim algo grotesco e desrespeitoso, ainda quis dar mais uma chance ao filme pois pensei que Hua estava tão triste e deprimida que não tinha mais nada a perder, no entanto, eu estava enganada porque o que vem a seguir é um grito latente à misoginia, machismo, estupro, e a imagem da mulher apática que deve aceitar calada tudo do "seu homem"
Cenas de sexo excessivas que cansam, uma mulher culta com um futuro promissor se sujeitando a abusos físicos e verbais, simplesmente não entra na minha cabeça. E não é porque Mathieu não teve oportunidade de estudar, ele é assim. Creio até que o filme foi preconceituoso quanto a isso já que Mathieu é a personificação do homem das cavernas, enquanto que o namorado de Hua que morava em Pequim, professor universitário, culto, era um verdadeiro príncipe. Qualquer pessoa bem informada sabe que a violência contra a mulher não escolhe classe social.
Eu ainda quis dar uma chance ao diretor e pensei: "talvez ele queira mostrar o como existem mulheres afundadas nesse tipo de relação!" Mas não! Não se pode pegar uma personagem e torna-la vítima de suas escolhas! Por que não mostrar uma mulher forte, que diz "não"? Mesmo que o preço que ela tenha que pagar seja alto?
Este não é um filme romântico. Lou Ye foi completamente infeliz com seu roteiro e direção, talvez o único mérito do filme seja questionar essas relações doentes.


Cotação: 1 estrela

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Camille Claudel: entre a genialidade e a loucura.


Filme francês de 1988 dirigido por Bruno Nuytten (A vida de Albert), conta a história da escultora Camille Claudel (Isabelle Adjani), que em 1885 entra em conflito com sua família ao se tornar assistente e amante do já renomado escultor Auguste Rodin (Gérard Depardie) . Decidida a trabalhar por conta própria, Camille rompe com Rodin e cai em um abismo de solidão e paranoia.
Esta é uma obra para quem quer conhecer um pouco mais sobre esta grande artista Camille Claudel. Filha mais velha de uma família pequeno-burguesa, seu pai sempre apoiou seu talento e a matriculou nas melhores escolas de belas artes de Paris. O irmão mais novo Paul Claudel queria ser escritor, no entanto, o pai apostava no talento da jovem e impulsiva Camille, para desgosto da mãe que não acreditava e nem entendia o talento da filha.
Isabelle Adjani esteve fantástica no papel de Camille. Não foi por menos que ela ganhou o César (o Oscar francês por sua atuação). Creio que posso dizer o mesmo de Gérard Depardie, que fez um Rodin cheio de mulheres, mas que encontrou sua inspiração perdida em Camille.
Camille Claudel enfrentou a sociedade para fazer arte e para viver o amor. Teve a oportunidade de trabalhar como assistente de Rodin em uma exposição em Paris, no entanto, achou que já era hora de ter vida própria. Rompeu definitivamente com Rodin, alugou um apartamento, e começou a esculpir por conta própria. Graças a amigos influentes ela pode expor seu trabalho com sucesso de crítica, porém, sua genialidade já estava consumida pela loucura.


A verdadeira Camille Claudel

Camille fica paranoica e começa a acreditar que Rodin roubaria todas as suas peças e expô-las em seu nome. Ela acreditava em um complô, e com a morte do pai, Camille se isola definitivamente do mundo, sendo internada em 1915 pelo irmão. Camille Claudel ficou 30 anos em um sanatório, morrendo antes de completar 79 anos.
O filme me emocionou muitíssimo porque sempre ouvia falar de Camille Claudel, mas não imaginava que sua história fosse tão sofrida. E mais! Que sua história e sua obra se interligassem com a de Rodin.
Sem dúvidas foi uma mulher notável e o diretor teve muita sensibilidade em transmitir isso através da excelente Isabelle Adjani. Certamente é uma história que nos permite perguntar: existe alguma relação entre a criatividade e a loucura?
Não sou nenhuma especialista em esculturas, pinturas, mas creio que a obra de Camille Claudel deveria ser totalmente desvinculada da obra de Rodin, visto que seu período mais produtivo foi durante o rompimento com o escultor, período em que estava em profunda depressão, mas também um período de grande amadurecimento profissional.


Camille esculpindo.

Destaque para maquiagem, figurino, trilha sonora e fotografia que formaram um espetáculo à parte.

Cotação: 5 estrelas





Uma de suas estátuas denominada: Abandono

Cotação: 5 estrelas

Link para assistir online: Camille Claudel

sábado, 20 de julho de 2013

Casa de Areia e Névoa e a fragilidade do ser humano


Obra dirigida e escrita por Vadim Perelman (Sem Medo de Morrer), com Ben Kingsley (Behrani) e Jennifer Connelly (Kathy Nicolo) nos personagens principais.
Kathy esta deprimida após ser abandonada pelo marido, e por um erro do governo é despejada da casa que seu pai deixou para ela e para o irmão. A casa então é leiloada e comprada pelo iraniano Behrani com a intenção de vendê-la pelo dobro do preço reconquistando assim a fortuna da família. Kathy e Behrani travam uma disputa pela casa que chega às últimas consequências.
Já perdi as contas de quantas vezes assisti este filme. É simplesmente belíssimo! À princípio pode parecer uma história boba em que duas pessoas brigam por um patrimônio, mas é muito mais que isso.
Com um roteiro aparentemente simples e uma direção competente, Vadim Perelman conseguiu extrair o melhor de Ben Kingsley e Jennifer Connelly: duas atuações irretocáveis e sensíveis. Aliás, todo o elenco esteve muito bem. A esposa de Behrani, Nadi (Shoreh Agdashloo) fez uma bela interpretação de uma esposa submissa, com olhos expressivos e complacentes.
No início do filme vemos a família Behrani desfrutando de suas posses no Irã com seus filhos ainda crianças brincando na praia, e em seguida o casamento monumental da filha mais velha. O então ex-coronel Behrani, sua esposa e seu filho são obrigados a morarem nos EUA já que haviam perdido todo o dinheiro e prestígio com a invasão dos aiatolás. 
Enquanto isso, Kathy esta improdutiva, totalmente entregue à depressão. Nesse momento a câmera mostra a casa completamente suja, louça para lavar, correspondências para abrir e percebemos então que Kathy esta apática ao mundo exterior.
Surpreendida com a chegada de autoridades que a expulsam de casa, Kathy pode contar apenas com a ajuda do subdelegado Lester. Desempregada, sozinha, ela procura uma advogada orientada por Lester para ajudá-la, no entanto Behrani esta decidido a não vender a casa por menos de 140 mil dólares, o que seria menos de um terço do que ele pagou.


Chega a névoa. E com a névoa os problemas de Kathy e Behrani começam. A casa era para Kathy a lembrança de seu pai, para Behrani a oportunidade de recomeçar a vida. Mas a névoa traz consigo novamente o abandono, a desesperança e até mesmo o ex- coronel iraniano se compadece do "pássaro ferido que retorna a sua casa". 
Os sentimentos que antes eram de desprezo e indiferença, agora transformam-se em compaixão e se entrelaçam de tal forma, mostrando a fragilidade do ser humano mesmo diante de um bem material, sim! 
Somos feitos de areia! Todos temos nosso lado frágil, até mesmo o subdelegado Lester que teoricamente seria o protetor de Kathy, o profissional correto, pai exemplar. A névoa e a areia da paixão o derrubaram.
E aí me vem à mente uma frase de Freud: "Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de ferro."
A vida nos cobra isso o tempo inteiro. Que sejamos de ferro! Mas eu prefiro a frase de José Saramago: "Se tens um coração de ferro, bom proveito! O meu fizeram-no de carne e sangra todo dia"



Cotação: 5 estrelas

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Malena: A Sensibilidade e Sensualidade de Tornatore



Malena filme italiano do ano de 2000 dirigido pelo italiano Giuseppe Tornatore (Cinema Paradiso), conta a história de uma mulher bonita e misteriosa (Monica Bellucci) que desperta a atenção em um pequeno vilarejo da Sicília. Seu marido foi para a Segunda Guerra, e por morar sozinha e ser bela, todos suspeitam que Malena tem um amante, com exceção do garoto Renato de apenas 13 anos que nutre uma paixão secreta por Malena.
Já havia assistido este filme várias vezes por duas razões: filme dirigido por Giuseppe Tornatore o mesmo que dirigiu Cinema Paradiso, preciso dizer mais? E depois por causa da Monica Bellucci que considero uma das atrizes mais belas de todos os tempos, e conseguiu fazer uma Malena sedutora sem a intenção de ser e ao mesmo tempo melancólica.
Certa vez vi uma entrevista com Tornatore e ele disse que Monica Bellucci era a Malena que ele queria. Concordo plenamente! Além da beleza, a personagem também precisava de um certo ar de mistério, já que naquele vilarejo pouco se sabia sobre ela, por isso inventavam mentiras a seu respeito.
O garoto Renato ao ver Malena passar com toda a sua volúpia, logo se apaixona. Quando Malena saía de casa, o vilarejo parava. As mulheres ficavam com inveja, e os homens a admiravam, mas não deixavam de dizer que mesmo com o marido na guerra, ela tinha outra mulher.
Intrigado com a situação, Renato começa a investigar seu primeiro amor e descobre que Malena nada mais é que uma mulher como outra qualquer e que estava sendo vítima das intrigas da cidade. Sua inocência de menino e seu amor puro fazem com que ele faça uma promessa a um santo para que proteja Malena de toda a população.
O filme é de uma sensibilidade ímpar. Além de falar sobre amadurecimento, descobertas sexuais, também fala sobre preconceito. O preconceito ao qual uma mulher sozinha estava sendo vítima e que um garoto com a ingenuidade de uma criança recém crescida, mas com a coragem de um homem, protege sua amada do seu jeito, do jeito que ele podia.
Giuseppe Tornatore foi muito feliz em explorar a sensualidade de Monica Bellucci e o desejo de Renato. Nada de vulgaridades, tudo muito sutil. Uma perna que aparece, uma rápida cena de Bellucci nua nos pensamentos de Renato, um seio mostrado acidentalmente de lado. Detalhes que permeiam a mente de uma personalidade que ainda esta em evolução, que é o caso de Renato.


Tem a parte engraçada que é a família de Renato. Uma família italiana bem caricata, escandalosa, exagerada, e o pai que quer que o garoto vire logo um "homem", sem saber que ele já tinha motivos suficientes para se orgulhar do filho. 


"Eu amei outras mulheres e elas sempre me pediram para nunca esquecê-las. E eu não esqueci a única que não me pediu: Malena."

Cotação: 5 estrelas.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Vera: A Transexualidade em Foco


Vera é um filme nacional de 1987 dirigido por Sérgio Toledo ( A Guerra de Homem) e que conta com a participação da atriz Ana Beatriz Nogueira e de Raul Cortez (Professor Paulo).
Vera sai de um internato e é ajudada pelo professor Paulo a trabalhar em uma biblioteca, já que gostava de escrever poemas. No entanto, sua aparência masculinizada e suas vestes causam desconforto não só no local de trabalho, mas em toda a sociedade. Vera não quer ser Vera, ela se reconhece como homem e quer ser tratado como tal.
Curiosidade: Ana Beatriz Nogueira ganhou prêmio de melhor atriz no festival de Berlim.
Bem, descobri esse filme por acaso pois vejo que até hoje a transexualidade gera polêmica. Primeiro devo dizer que o filme foi baseado no livro "A queda para o alto" do escritor e poeta transexual Anderson Harzer, nasceu Sandra Harzer, mas se reconhecia como homem, e foi durante sua adolescência na FEBEM que ELE assumiu de vez sua transexualidade.
O então deputado estadual de SP Eduardo Suplicy, comovido com seus poemas, deu-lhe a chance de um emprego e uma vida livre. Mas as lembranças, os traumas, o preconceito, fizeram com que Anderson Harzer pulasse de um viaduto no centro da cidade.
O que seria então transexualidade? Bem, não é o órgão sexual que define se alguém é homem ou mulher, biologicamente sim, mas psicologicamente, emocionalmente, culturalmente, socialmente, não é. Então, uma mulher (biologicamente falando) pode não aceitar sua vagina, seus seios, seu nome feminino e pode não querer usar roupas femininas. Ele (e é assim que você deve se referir) é um transexual.
O mesmo acontece com homens (biologicamente falando), não aceitam seu pênis (já li casos terríveis de tentativa de automutilação), se vestem como mulher e querem ser tratadas como mulher. E é muito bom lembrar que transexualidade não tem nada a ver com prostituição ou promiscuidade, são seres humanos que merecem nosso respeito como qualquer outra pessoa. É como nascer em um corpo errado.
O filme foi brilhante em mostrar isso! E em plena década de 80! Várias vezes escutamos o personagem dizer: "Eu sou homem, entendeu? Sou homem!" 


Em vários momentos do filme, alguns poemas de Anderson Harzer são recitados e percebemos a beleza e a sensibilidade de uma alma atormentada, primeiro por não saber quem é, e depois por ser rejeitado pela sociedade, por rejeitar seu próprio corpo.
Raul Cortez é um caso à parte. É imortal! Um gênio da interpretação! E Ana Beatriz Nogueira não fica atrás, sua atuação foi irretocável! Orgulho do cinema nacional!
Apesar da luta do personagem e mesmo sabendo que devemos levar em conta a época em que o filme foi lançado, creio que pouquíssimas coisas mudaram de lá para cá. As pessoas ainda se confundem com "ele" ou "ela", e os banheiros públicos são verdadeiros problemas.
O filme é antigo, mas traz à tona um tema bastante atual: o direito de ser, não é uma questão de escolha, é simplesmente ser!.
Creio que um artista como Anderson Harzer não deve, não pode ser esquecido. E fica aqui minha singela homenagem às mulheres e homens trans que lutam dia após dia para vencer o preconceito.


O livro que deu origem ao filme com a foto de Anderson Herzer

Cotação: 5 estrelas

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Para Sempre Lilya



Filme sueco de 2003 dirigido por Lukas Moodysoon (Um Vazio no meu Coração), estrelado por Oskana Akinshina e Ardydom Bogucharsky (Volodya).
Lilya é uma jovem de 16 anos que mora com a mãe em um subúrbio da antiga União Soviética. Sua mãe vai para os EUA com o marido, deixando Lilya sobre a responsabilidade de uma tia que a expulsa de seu apartamento tomando posse dele. Lilya então vai morar em um apartamento frio e pequeno, ela espera dias que sua mãe lhe envie dinheiro. Vendo-se sem comida, sem luz, o único caminho que encontra é o da prostituição.
Contando apenas com a amizade de Volodya de apenas 11 anos e que vez ou outra dorme em seu sofá, Lilya conhece e se apaixona pelo jovem Andrei e lhe faz promessas de uma vida melhor na Suécia: trabalho, salário alto, apartamento para os dois, uma vida perfeita. Apesar da pouca idade, Volodya acha tudo muito rápido e sempre avisa sua amiga do quanto ela esta sendo precipitada.


Lilya quer melhorar sua vida e quer ajudar seu amigo, mas seus planos acabam não dando certo.
Este é um filme que eu sinceramente indico para poucos. Não é para qualquer um. Mesmo não tendo nenhuma cena de violência explícita, você sabe que Lilya esta sofrendo, é algo quase palpável.
Na primeira cena vemos uma adolescente correndo desesperada pelas ruas ao som da banda Rammstein, ela então para em frente a um viaduto e já imaginamos o desfecho. A cena é interrompida e então voltamos há três meses quando Lilya ainda morava na ex- União Soviética e estava feliz porque acreditava que iria para os EUA junto com a mãe e o marido. Ledo engano. Ela é abandonada à própria sorte, sem dinheiro, despejada do seu apartamento e contando apenas com a amizade do pequeno Volodya, outra criança negligenciada pelos pais.
O diretor foi muito sutil em todas as cenas. Você sabe que Lilya foi estuprada, espancada, e os clientes só são mostrados seus rostos durante o sexo, mesmo assim é indigesto.
Quando pensamos que ela finalmente encontraria a redenção ao conhecer Andrei, apesar dos inúmeros apelos de Volodya, ela vai para a Suécia com a ingenuidade que convém a uma garota de 16 anos e que esta apaixonada. No entanto, Lilya é traficada e o que vem a seguir é repugnante!
Os momentos de ternura são os sonhos que ela tem com Volodya, em que os dois aparecem com asas de anjos e tudo é possível. Não há frio, nem dor e nem sofrimento, eles podem voar livres como pássaros, longe daquela realidade tão amarga, longe daquela sociedade que os esqueceu.


E se você assistir, você pode pensar: "nossa esse filme só tem coisa ruim!" Rebato seu argumento da seguinte forma: todos os dias no mundo inteiro, mulheres e crianças são levadas para outros países para serem exploradas sexualmente. E seria mais cômodo julgar Lilya, não é mesmo? Por que ela não arrumou um emprego? É mais fácil fazer essa pergunta do que questionar: Como a sociedade pode contribuir com essas crianças que estão sendo vítimas de pais inconsequentes e autoridades negligentes?
Desta vez eu não escolhi um subtítulo para a resenha do filme. Simplesmente "Para Sempre Lilya". Simplesmente "Para Sempre Nossas Mulheres e Crianças Vítimas do Tráfico Humano"

Link para assistir online: Para Sempre Lilya


Cotação: 5 estrelas