Dirigido pelo italiano Pier Paolo Pasolini (Salò ou 120 Dias de Sodoma), a obra retrata fielmente a vida de Jesus Cristo segundo o Evangelho de São Mateus. Desde o seu nascimento, os milagres, suas pregações até sua morte e ressurreição.
Este filme me surpreendeu em vários aspectos. Primeiro porque para quem não conhece o diretor italiano Pasolini, atrevo-me a dizer que ele foi um gênio incompreendido não só na sua época como também nos dias atuais.
Pasolini era assumidamente homossexual, ateu e comunista. Todos os seus filmes são uma crítica à política italiana e à igreja católica que influenciava diretamente na política da época. Em Salò, sua última obra e talvez a mais criticada, Pasolini utilizou um conto do Marquês de Sade e transformou em uma grande denúncia não só contra o fascismo, mas contra todos os regimes ditatoriais. Infelizmente foi assassinado de forma brutal e a causa ainda é desconhecida, embora no filme Nerolio que retrata os últimos dias de vida do diretor, mostra que ele foi espancado até a morte por um garoto de programa, mas existe a hipótese de ter sido uma emboscada política.
Amado e odiado, Pasolini quando lançou O Evangelho Segundo São Mateus, muitos não entenderam já que ele era ateu. O que queria Pasolini com um filme que mostrava a vida de Jesus Cristo? Eu mesma fiquei surpresa. Se estamos falando de um diretor tão polêmico, esperava algo tão incompreendido quanto "A Última Tentação de Cristo" de Martin Scorsese.
No entanto, Pasolini fez uma obra belíssima, filmada em preto e branco com uma trilha sonora irretocável. O Jesus Cristo deste italiano não é como os dos americanos e europeus (representado sempre na figura de um homem loiro e com olhos azuis, como se no oriente-médio fosse fácil encontrar alguém com tais características). Pasolini escolheu um ator amador ( ele gostava de trabalhar com amadores), alto, moreno, com sobrancelhas grossas para fazer o papel de Jesus. Já saiu do estereótipo de vários filmes sobre a vida de Cristo que foram lançados nesta época.
Mas enfim, o que levou um ateu filmar a vida de Cristo? Modismo? Não. Depois de muito pensar, cheguei à conclusão que não foi por modismo e muito menos por fé, mas por política. Pasolini sendo comunista admirava a figura de Jesus Cristo que era um reacionário, lutava contra o sistema opressor, estava sempre à favor dos mais humildes e indefesos e não seria esta uma das premissas do comunismo?
Não estou querendo dizer com isto caro leitor que Jesus era comunista, mas talvez era para Pasolini, ou talvez Pasolini acreditava na existência de Cristo e admirava o trabalho e a coragem que ele teve, ironicamente morrendo por questões políticas.
Filmado em algumas terras áridas da Itália a fotografia é bela, olhares que expressam dor, alegria, a música que toca a alma. Pasolini conseguiu transformar a vida de Cristo em poesia. É uma obra imperdível de um dos maiores cineastas de todos os tempos e que ainda conta com a participação de sua mãe, Sussana Pasolini no personagem de Maria já com idade mais avançada.
Link para assistir online: O Evangelho Segundo São Mateus
Cotação: 5 estrelas