Olá leitores! Depois de muito tempo venho aqui comentar sobre este clássico do nosso cinema dirigido por Hector Babenco (Carandiru) e estrelado por Fernando Ramos da Silva, Marília Pêra e Jardel Filho.
A história é sobre um garoto que abandonado pelos pais, vive nas ruas praticando pequenos furtos, até ser enviado para um reformatório onde é obrigado a conviver com a truculência dos policiais e jovens deliquentes. Saindo do reformatório, torna-se um traficante de drogas e assassino com apenas 11 anos de idade.
Não há dúvidas de que Hector Babenco conseguiu transmitir com muito realismo a dura realidade de crianças e jovens que vivem nas ruas, e isto no início da década de 80! E ainda hoje provoca discussões sobre o "excesso de realismo", pois de fato é um filme que choca.
O que me deixa intrigada é que esse "excesso de realismo" quando vindo de fora é aplaudido, e torna-se um "cult", mas quando se trata do nosso cinema, são sempre os mesmos comentários: "filme nacional só tem palavrão, filme nacional só mostra favela, etc". Creio que seja um desmerecimento com o nosso cinema (que por sinal é muito bom), a arte além de entreter, ela deve levar o sujeito a pensar, refletir, e se você não esta disposto a isto, não assista Pixote.
Ótimas atuações, sobretudo de Fernando Ramos da Silva (Pixote), que conseguiu mostrar com sua inexperiência como ator, tudo o que o personagem exigia: medo, carência, coragem, rebeldia, e uma naturalidade incrível diante das câmeras.
É claro que choca ver uma criança com uma arma nas mãos e exposta aos mais diferentes tipos de violência. Na sua primeira noite no reformatório, Pixote presencia um estupro, ele vê seus amigos serem mortos pelos policiais. Mas não vamos esquecer de que é esta a dura realidade de muitas crianças.
Quando consegue sair do reformatório com alguns amigos, e de volta às ruas, ele volta para os pequenos furtos, mas desta vez envolve-se também com um grande traficante: Cristal (interpretado pelo saudoso Tony Tornado) que aproveita do fato dos garotos serem menores de idade, e os alicia para que sejam pequenos traficantes..
Em meio a sonhos e brincadeiras que simulavam assaltos, assassinatos, o filme muito me lembrou do documentário realizado por MV Bill e Celso Ataíde: Falcão: Meninos do Tráfico. São crianças abandonadas pela família, sociedade e que não encontram outra saída a não ser a do crime, por acreditarem que este é o caminho mais fácil. E nem preciso comentar sobre os famigerados reformatórios, que no caso de Pixote, deixa bem claro: não ressocializa, são fábricas de marginais, crianças tratadas com o maior desprezo possível, afinal, eles estão à margem da sociedade.
Um outro aspecto que muito me chamou atenção foi a relação de Pixote e a prostituta Sueli (Marília Pêra). Quando os dois se veem sozinhos, Pixote volta a ser apenas uma criança e Sueli o acolhe em seus braços como se fosse um bebê. E como um bebê, ele suga o seio de Sueli, não há nenhuma conotação sexual na cena, fica explícito que aquela criança queria uma mãe, pelo menos precisava de uma naquele momento. Sueli se compadece, mas em seguida o afasta afirmando "não gostar de crianças", no entanto, Sueli pouco tinha a oferecer para aquele garoto tão carente e tão judiado pela vida.
O filme foi premiado no mundo inteiro, e Fernando teve seus cinco minutos de fama. Acredito que seja válido destacar que Fernando não era um menino de rua, ele tinha mãe, e trabalhava para ajudar em casa, e foi durante o trabalho que uma produtora o descobriu. Após o sucesso do filme, ele ainda tentou seguir na carreira de ator, mas não conseguiu. Influenciado pelos irmãos, entrou para a vida do crime e foi covardemente assassinado por três policiais aos 19 anos, deixando uma esposa e uma filha pequena. Sua curta trajetória pode ser vista no filme: "Quem matou Pixote?", baseado no livro escrito por sua esposa: "Pixote Nunca Mais"
Destaque para as participações de: Elke Maravilha, o grande ator Rubens de Falco (já falecido) e Beatriz Segall.
Link para assistir online: Pixote: A Lei do Mais Fraco