terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Como Esquecer - 2010


Drama nacional dirigido por Malu de Martino (Mulheres do Brasil), o filme conta a história de Júlia (Ana Paula Arósio), uma professora de literatura inglesa que após ser abandonada por sua companheira Antônia sem motivos aparentes, luta com a ajuda de se amigo gay Hugo (Murilo Rosa), que também sofre com a morte do seu namorado.
Muito mais que um filme sobre homossexualidade, este é um drama sobre seres humanos tentando dar continuidade à vida sem os amores de suas vidas. Cada um age de uma maneira diferente. Júlia torna-se mal humorada, destila veneno por todos os lados o que para pode parecer soar como antipatia para muitos espectadores. Mas vamos analisar a situação de Júlia: ela morou treze anos com Antônia que foi embora sem dar explicação alguma e ainda deixou dívidas para Júlia. Ela esta deprimida, não consegue suportar a ausência, não consegue trabalhar. Logo no início do filme, ela pede licença da universidade porque segundo ela mesma diz: "fiquei improdutiva por dias". No decorrer do filme ela vai divagando sobre a vida, sobre sua própria existência e não há como não sentir e entender o sofrimento de Júlia.
Outro aspecto do seu sofrimento, que para mim é totalmente compreensível, é que Júlia se submete a castigos físicos e o objetivo é claro: manter sua mente inativa. Ela não queria pensar, pensar doía, machucava. Para muitos a personagem pode parecer egocêntrica, mas ela se mostra comovida com o drama de Lisa (Natália Lage), que também foi abandonada pelo namorado e com isso se viu obrigada a fazer um aborto.
Já Hugo é a personificação da alegria e paciência. Apesar de ter sofrido uma grande perda (a morte do seu namorado), Hugo faz de tudo para recomeçar sua vida, conhecendo outras pessoas, bebendo e ajudando sua grande amiga: Júlia.
E é então que esses três personagens cada um com seu drama, vão morar em uma casa de frente para o mar, na esperança de recomeçar a vida, de esquecer o passado e se ajudarem mutuamente.
Destaque para as cenas de nudez que foram belíssimas, sutis e sensuais e para a interpretação de Ana Paula Arósio que abriu mão de sua beleza inquestionável, revelando uma atriz talentosa, centrada e dedicada.


"Qual o contrário do amor?"

sábado, 26 de janeiro de 2013

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças - 2004



Joel (Jim Carrey) descobre que sua ex-namorada Clementine (Kate Winslet) submete-se a um procedimento para apagá-lo de vez da sua mente e recomeçar sua vida. Magoado, Joel decide também esquecer Clementine, mas no meio da experiência, enquanto estava inconsciente, ele se arrepende e tenta proteger Clementine nas suas mais vagas lembranças.

“Feliz é a inocente vestal / Esquecendo-se do mundo e sendo por ele esquecida / Brilho eterno de uma mente sem lembranças / Toda prece é ouvida, toda graça se alcança”



Alexander Pope



É com esta maravilhosa citação que inicio esta resenha sobre este filme igualmente maravilhoso dirigido pelo francês  Michael Gondry ( Sonhando Acordado). Brilho Eterno poderia ser mais um filme clichê de hollyoody, mas felizmente foge dos padrões.
Com elenco de peso: Kate Winslet, Jim Carrey, Mark Ruffalo, Elijah Wood, Kirsten Dusnt e Tom Wilkinson, Michael Gondry (que também é um dos roteiristas) nos traz um romance totalmente virado às avessas, podemos dizer que a história de Clementine e Joel começa de trás para frente.
Joel e Clementine aparentemente nada têm em comum a não ser a solidão. Ele é contido, tímido, parece ter receio de viver e ela é espontânea, impulsiva, explosiva! Então, podemos dizer que a máxima que diz que os opostos se atraem funciona? Neste caso sim. Mas por um período curto. Logo os problemas cotidianos, as diferenças de visão de mundo começaram a vir à tona e o que era para ser uma grande história de amor, tornou-se em algo trágico para ambos.
Creio que esta relação nos leva a refletir sobre nossas próprias relações. Toda essa diferença existente entre os casais, que pela falta de compreensão e tolerância acaba sendo vista como defeito imperdoável. Vendo por esse prisma, podemos relembrar a frase de Clementine "não sou perfeita". Joel também não era. Ninguém é! Então, onde esta nossa tolerância com aquilo que à princípio nos encantava, mas agora nos aborrece profundamente.
Acredito que este filme fale sobre ceder. Infelizmente não é todo mundo que esta preparado para se relacionar, visto que isto implica ceder, abrir mão, e o fato é que muitas vezes é mais fácil ficar na zona de conforto e não se arriscar a viver.
E quanto ao esquecimento? Ah como seria ótimo se pudéssemos esquecer tudo aquilo que nos fez mal, as pessoas que nos prejudicaram! Mas não podemos! O mal também faz parte da nossa história. Histórias boas ou ruins fazem de nós quem somos. É nossa história! E o que nos resta é aprender a conviver, perdoar a si próprio e seguir em frente. Clementine apagou Joel da sua mente, mas não conseguiu apagá-lo do seu coração. Não conseguiu ter um envolvimento verdadeiro e íntimo com alguém, e quando Joel decide esquecê-la, ele também começa a se lembrar porque se apaixonou por ela, daí o arrependimento. 
O filme é para quem esta disposto a dar uma segunda chance, a fazer diferente. Porque de nada adianta tirar alguém da sua vida, reatar, e continuar cometendo os mesmos erros. Ninguém é perfeito! Arrependimento é necessário se quisermos dar continuidade com ou sem o ser amado.
Bem,  reflexões sobre relacionamentos à parte Brilho Eterno é um filme sensível, um roteiro bastante criativo que mistura romance, drama, comédia, ficção científica e coloca cada ator no seu devido papel mostrando o que tem de melhor. Aliás, devo salientar que me agradou muitíssimo ver Jim Carrey diferente dos personagens que estamos acostumados a ver: tristonho, enigmático, às vezes mal humorado, Jim Carrey mostra aqui sua faceta dramática. Já Kate Winslet, atriz conhecida por dramas, é extravagante, espontânea, revelando também a atriz completa que é.
Não se esqueça jamais de assistir Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.



"Eu poderia morrer agora, estou tão feliz! Nunca senti isso antes! Estou exatamente onde queria estar."

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Segredo dos Seus Olhos - 2009



Filme de nacionalidade espanhola e argentina, dirigido por Juan José Campanella (O Filho da Noiva, O Mesmo Amor a Mesma Chuva), narra a história de Benjamin Espósito ( Ricardo Darín) um oficial da justiça aposentado, que decide escrever um romance baseando-se em um crime ocorrido em 1974 em que uma jovem é estuprada e morta. 
O crime acaba aproximando Espósito do marido da vítima Ricardo Morales (Pablo Rago), um homem apaixonado que comove Benjamin e o motiva a encontrar o assassino, contando com a ajuda de seu amigo Pablo Sandoval ( Guillermo Francella) e de sua chefe Irene Menéndez Hastings (Solledad Villamil) por quem também é apaixonado.
Levei um ano para assistir a esta pérola e devo admitir: puro preconceito. Pensei que se tratasse de um romance água com açúcar, mas que boa surpresa eu tive por estar enganada! Completamente enganada!
O Segredo dos Seus Olhos trata-se de um drama com um teor policial e que em alguns momentos me fez lembrar de Almodóvar. Talvez pela mistura de estilos e por tocar tão fundo na alma. Em momento algum a história é enfadonha, o roteiro foi muito bem escrito, os atores (especialmente Ricardo Darín) estão em perfeita harmonia, e o diretor soube utilizar reviravoltas, flashbacks que nos fazem querer ir até o final.
A primeira cena é clássica: um homem partindo de trem e deixando sua amada para trás. Quem já não viu esta cena? Em seguida nos deparamos com o mesmo já velho, tentando escrever algo. E é aí que a história começa.
O que nos comove realmente é como Benjamin descobre o quão vazia era sua vida. Foi preciso se deparar com o corpo nu de uma jovem, o desespero do marido apaixonado para que ele pudesse compreender o "puro amor", e é então que sua vida gira em torno do caso, com direito até a algumas cenas engraçadas quando ele e seu grande amigo Pablo vão até à casa do suspeito para procurar cartas.
A paixão entre ele e Irene é algo que foge dos padrões. O telespectador consegue captar esta paixão através dos olhares que um lança para o outro. Como Benjamin mesmo diz: "o olhar diz tudo."
E durante vinte e cinco anos sua vida esteve estagnada por causa desse assassinato. Vinte e cinco anos vivendo do passado, das recordações, sem conseguir dar continuidade à sua vida. Mas o final (que por sinal é belíssimo), traz para Espósito o alívio de ver o caso "resolvido", e quem sabe enfim, viver sua grande paixão.


"Você sabe o que é viver uma vida cheia de nada?"

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Magnólia - 1999


Filme americano dirigido e escrito por Paul Thomas Anderson (Buggie Nights - Prazer sem Limites).
A história de nove personagens que aparentemente não têm nada em comum, mas logo suas vidas são interligadas através do programa "O que as crianças sabem". Filme estrelado por Julianne Moore, Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, William H. Macy e Philip Baker Hall.
Primeiramente devo dizer que considero imperdoável só ter assistido esse filme agora. Como pude? E eu sei que tudo que eu escrever aqui, provavelmente os leitores já terão lido em algum lugar, mas mesmo assim quero deixar registrada minha impressão sobre Magnólia.
Como podem ver o elenco é de peso. E Paul Thomas Anderson conseguiu extrair o melhor de cada ator, e destaco aqui o personagem de Tom Cruise que fez brilhantemente o papel de "sabe-tudo da sedução". Foi ótimo ver Tom Cruise falando palavrão, ensinando os homens a serem conquistadores, fugindo daquele esterótipo de bom moço, e creio ter valido à pena para ele também já que sua dedicação lhe rendeu uma indicação ao oscar de melhor ator coadjuvante. Tom Cruise parabéns! Depois desse filme você subiu no meu conceito!
Magnólia me tocou profundamente não só por ser uma história sobre arrependimento e perdão, mas também de recomeço. Poderia ser mais um filme clichê, mas ele foge totalmente dos padrões. Paul Thomas Anderson soube aproveitar cada diálogo, cada corte de cena, cada câmera. São três horas de filme e você ainda pede um pouco mais.
Resumir Mangnólia seria enfadonho. Vemos dois velhos morrendo de câncer, uma mulher tentando mudar o testamento do marido, o enfermeiro tentando localizar desesperadamente o filho de seu paciente, o garoto prodígio que é explorado pelo pai, a jovem viciada, o tira de bom coração, um guru do sexo e o homem que já foi vencedor do programa "O que as crianças sabem?" São esses personagens aparentemente comuns que dão vida à história contada de uma forma soberba por um diretor e roteirista talentoso, criativo e extremamente sensível.
A trilha sonora é sublime! Músicas de Aimee Mann e Super Tramp embalam o drama vivido pelos personagens. Cada um com seu próprio problema, mas que se unem em uma das cenas mais lindas quando cada um canta um trecho da música Wise Up.
O filme é cheio de passagens bíblicas, talvez isso explique a cena final que é no mínimo psicodélica, mas nos remete ao velho testamento quando Deus lança sobre o faraó as pragas para que o mesmo se curvasse e se arrependesse dos seus erros.

Link para assistir online: Magnólia


" A vida não é curta. A vida é longa..."
Cotação: 5 estrelas