quinta-feira, 11 de julho de 2013

Vera: A Transexualidade em Foco


Vera é um filme nacional de 1987 dirigido por Sérgio Toledo ( A Guerra de Homem) e que conta com a participação da atriz Ana Beatriz Nogueira e de Raul Cortez (Professor Paulo).
Vera sai de um internato e é ajudada pelo professor Paulo a trabalhar em uma biblioteca, já que gostava de escrever poemas. No entanto, sua aparência masculinizada e suas vestes causam desconforto não só no local de trabalho, mas em toda a sociedade. Vera não quer ser Vera, ela se reconhece como homem e quer ser tratado como tal.
Curiosidade: Ana Beatriz Nogueira ganhou prêmio de melhor atriz no festival de Berlim.
Bem, descobri esse filme por acaso pois vejo que até hoje a transexualidade gera polêmica. Primeiro devo dizer que o filme foi baseado no livro "A queda para o alto" do escritor e poeta transexual Anderson Harzer, nasceu Sandra Harzer, mas se reconhecia como homem, e foi durante sua adolescência na FEBEM que ELE assumiu de vez sua transexualidade.
O então deputado estadual de SP Eduardo Suplicy, comovido com seus poemas, deu-lhe a chance de um emprego e uma vida livre. Mas as lembranças, os traumas, o preconceito, fizeram com que Anderson Harzer pulasse de um viaduto no centro da cidade.
O que seria então transexualidade? Bem, não é o órgão sexual que define se alguém é homem ou mulher, biologicamente sim, mas psicologicamente, emocionalmente, culturalmente, socialmente, não é. Então, uma mulher (biologicamente falando) pode não aceitar sua vagina, seus seios, seu nome feminino e pode não querer usar roupas femininas. Ele (e é assim que você deve se referir) é um transexual.
O mesmo acontece com homens (biologicamente falando), não aceitam seu pênis (já li casos terríveis de tentativa de automutilação), se vestem como mulher e querem ser tratadas como mulher. E é muito bom lembrar que transexualidade não tem nada a ver com prostituição ou promiscuidade, são seres humanos que merecem nosso respeito como qualquer outra pessoa. É como nascer em um corpo errado.
O filme foi brilhante em mostrar isso! E em plena década de 80! Várias vezes escutamos o personagem dizer: "Eu sou homem, entendeu? Sou homem!" 


Em vários momentos do filme, alguns poemas de Anderson Harzer são recitados e percebemos a beleza e a sensibilidade de uma alma atormentada, primeiro por não saber quem é, e depois por ser rejeitado pela sociedade, por rejeitar seu próprio corpo.
Raul Cortez é um caso à parte. É imortal! Um gênio da interpretação! E Ana Beatriz Nogueira não fica atrás, sua atuação foi irretocável! Orgulho do cinema nacional!
Apesar da luta do personagem e mesmo sabendo que devemos levar em conta a época em que o filme foi lançado, creio que pouquíssimas coisas mudaram de lá para cá. As pessoas ainda se confundem com "ele" ou "ela", e os banheiros públicos são verdadeiros problemas.
O filme é antigo, mas traz à tona um tema bastante atual: o direito de ser, não é uma questão de escolha, é simplesmente ser!.
Creio que um artista como Anderson Harzer não deve, não pode ser esquecido. E fica aqui minha singela homenagem às mulheres e homens trans que lutam dia após dia para vencer o preconceito.


O livro que deu origem ao filme com a foto de Anderson Herzer

Cotação: 5 estrelas

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