quinta-feira, 20 de junho de 2013

Desapego: Dilacerante



O professor Henry (Andry Brody) consegue uma substituição em uma escola de periferia para lecionar aulas de literatura inglesa. Durante esse período, Henry tenta lidar com seus traumas de infância, seu avô doente, uma estudante com problemas, uma professora e uma jovem prostituta.
Filme americano de 2011 dirigido por Tony Kaye (A Outra História Americana).

"E nunca me senti tão profundo, e ao mesmo tempo tão alheio de mim e tão presente no mundo."

Albert Camus - Filósofo Francês e Escritor

É com esta frase magnífica que começa o filme. O início devo confessar é meio lento, o diretor fez uma espécie de documentário com algumas pessoas revelando suas razões para terem escolhido o magistério. Pensei ser mais um filme que assisti durante o curso de pedagogia em que o professor chega em uma escola decadente e salva a pátria. Algo que para mim sempre foi tão clichê e surreal porque pode parecer um pensamento pessimista meu, mas como pedagoga nunca me vi como uma heroína de filmes como: Escritores da Liberdade, O Sorriso de Monalisa, Sociedade dos Poetas Mortos, e por aí vai. Tudo bem, são filmes inspiradores, mas não é preciso estar dentro da sala de aula para saber que a realidade é bem diferente, e eu enquanto estudante pensava: "se eu conseguir salvar uma alma, já me dou por satisfeita."
No entanto, Desapego me surpreendeu, assim como A Outra História Americana (outro filme magnífico, que eu recomendo), será este um dom de Tony Kaye? Surpreender?
O filme não é sobre um professor herói. É sobre um professor que se preocupa com seu trabalho, com seus alunos, que ajuda até mesmo uma garota de programa a sair das ruas, e além de seu avô, talvez ela tenha sido o único elo afetivo de Henry, mas como diria uma canção de Fiona Apple "eu também tenho meu próprio inferno para cuidar".
Andry Brody que venceu o oscar pelo filme "O Pianista" esta soberbo no papel de Henry. Aliás, devo salientar que gosto muitíssimo dele, e ele fez um professor com um olhar triste, o olhar de Henry foi o que mais me impressionou.


O mais interessante é que não é somente Henry que tem problemas pessoais. O corpo docente inteiro. Estão todos cansados, eles explodem, viciam em calmantes, tem problemas conjugais, e enquanto isso é mostrado, Henry vai fazendo uma análise da vida, da profissão, da complexidade que é lidar com os problemas dos outros e não conseguir resolver sua própria vida. De se doar, querer o melhor dos alunos e não escutar: "obrigado".
Não é que eles não amem a profissão. Muito menos Henry. O que vi foi o cansaço batendo à porta, o esquecimento do "eu", a decepção por não conseguir, os problemas pessoais interferindo no lado profissional. Sempre escutei minhas colegas de classe dizerem: "os alunos não têm culpa". E de fato não têm. Mas os professores são humanos e têm uma vida e Tony Kaye soube mostrar isso de forma sensível, poética e tristemente lindo em um roteiro belíssimo.

Link para assistir online: Desapego



Cotação: 5 estrelas

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