sábado, 29 de junho de 2013

Mary e Max: Uma amizade diferente


Mary e Max é uma animação feita com massinhas de 2009, dirigida por Adam Elliot e conta a história baseada em fatos reais da amizade entre a garotinha solitária Mary que morava na Austrália e Max um homem obeso também solitário com 44 anos, americano e com síndrome de Aspenger.
Longa australiano que conta com as dublagens de Toni Collete (Mary) e Philip Seymour Hoffman (Max).
Já faz bastante tempo que assisti este filme. Na época fiquei na dúvida, não sabia se seria algo que me tocaria. Felizmente eu estava errada! Me tocou profundamente, e estou sempre indicando para as pessoas (mesmo que elas façam cara feia quando falo que é feito com massinha).
Não existe nada de clichê nesta animação. Duas pessoas de idades diferentes que moram em países diferentes, mas que têm algo em comum: a solidão. E são essas cartas que vão quebrar as rotinas de Mary e Max, um se apoiando no outro mesmo sem se conhecerem.
Mary mora com os pais. A mãe é alcoólatra, o pai trabalha em uma fábrica de chá e no seu tempo livre empalha pássaros mortos que ele encontra na estrada. Mary não tem amigos na escola, não tem com quem conversar, gosta de leite condensado, chocolate e sua cor favorita é marrom.


Max mora sozinho. Ele é judeu, mas de tanto ler livros virou ateu. As pessoas o acham estranho, e ele acha que o mundo é caótico, ele não consegue ver lógica nas pessoas. É obeso e gosta de comer cachorro-quente de chocolate.
Quando Mary começa a se corresponder com Max ela faz perguntas que todas as crianças fazem: "de onde vem os bebês?" Perguntas que deixam o mundo de Max confuso, e ele tem crises de ansiedade, até não aguentar e entrar em estado catatônico quando é indagado sobre o amor. Ele nada sabia sobre o amor, só sabia sobre números e ciência.
Apesar do filme falar de uma amizade sincera, ele também fala sobre diferenças. Tanto Mary quanto Max eram menosprezados, ela por ter uma mancha na testa e por ser gordinha e ele pela síndrome de aspenger. Sem dúvidas é um filme que tanto crianças quanto adultos se emocionarão. Com um roteiro sensível, dublagens cativantes, Mary e Max é um primor!


Cotação: 5 estrelas

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Tomboy: Tributo ao dia do orgulho LGBT


Laurie (Zoé Héran) é uma menina que tem cerca de dez anos e mora com os pais e sua irmã caçula Jeanne. Laurie tem os cabelos curtos e gosta de se vestir como homem, mas quando a família é obrigada a mudar de cidade, Laurie é confundida com um menino por uma garota da vizinhança e assim para seus amigos passa a se chamar Mickael. As começam a ficar complicadas quando Lisa (a garota) se interessa por Laurie e ela passa então a viver uma dupla identidade.
Filme francês de 2011 dirigido por Célline Sciamma (Lírios D'Água).
Eu poderia ter escolhido outro filme para celebrar o dia de hoje, mas Tomboy me tocou tão profundamente que não tive como fugir. Aliás comecemos pelo significado de Tomboy: meninas que gostam de agir como meninos. 
Achei que seria pertinente falar sobre este filme porque já que estamos em tempos de "cura gay", nada melhor que uma obra que retrata a realidade de tantas crianças pelo mundo afora. Crianças que não escolhem ser homossexuais, elas apenas são.
O filme é de uma simplicidade tocante. Laurie é cativante, não existe ainda um conflito com sua sexualidade, entendemos que ela é assim! E que atuação de Zoé Héran! No início ficamos sem saber se era um menino, ou menina, apenas em uma rápida cena durante o banho é que tiramos a dúvida.


A família é linda, o roteiro é como tem que ser: aborda conflitos de crianças. Uma criança confundida com um garota e que vive um dilema: as férias estão acabando e seu segredo corre risco, ela não quer que ninguém saiba, principalmente Lisa.
Já vi muitas pessoas dizerem erroneamente em "opção sexual". Acho que esse filme veio para confirmar que se trata de uma condição, não se escolhe ser gay, lésbica, transexual, travesti, etc. Fico realmente pensando na luta dessas pessoas desde crianças já predestinadas a serem excluídas da sociedade, ou viverem de acordo com o "que é certo".
Sem dúvidas eu recomendaria Tomboy para Marco Feliciano e toda a bancada evangélica fundamentalista e homofóbica. Crianças masculinizadas ou afeminadas não são aberrações e não estão doentes, e se os filmes não servirem para pensar na nossa própria realidade, deleto imediatamente este blog.
Bem, quero dedicar esta resenha a todos os meus irmãos gays, lésbicas, trans, travestis, etc, pela coragem de se assumirem e por travarem uma luta constante contra o preconceito que infelizmente impera na nossa sociedade.
Muito amor para vocês!

Link para assistir online: Tomboy

Cotação: 4 estrelas

sábado, 22 de junho de 2013

Passageiros da Segunda Classe: A Verdade por trás dos Hospitais Psiquiátricos




Passageiros de Segunda Classe é um documentário produzido no estado de Goiás e que mostra detalhadamente como eram tratados os pacientes do antigo Hospital Prof º Adauto Botelho. O filme mostra de forma crua como os internos eram tratados, não havia nenhuma preocupação com a cura desses pacientes, mas sim a segregação.
O documentário foi dirigido por Kim-Ir-Sem, Luiz Eduardo Jorge e Waldir de Pina. Ele foi rodado em 1986, mas só foi concluído em 2001, quatro anos após a demolição do hospital. É considerado como um dos mais importantes filmes de Goiânia.
Não sei explicar o sentimento que tive ao ver este documentário. Filmado em preto e branco, eu só teria uma palavra para descrevê-lo: estarrecedor. Em vinte minutos de documentário você já sente seu estômago embrulhado pela revolta. É possível ver as condições de higiene precária, pessoas nuas andando pelos corredores do hospital, algumas pessoas dizendo que não sabiam porque estavam ali, e outras dizendo que ainda tinham sonhos.


Em outra cena (digna de filme de terror), os "médicos" aplicam eletrochoques nos pacientes, e é possível vê-los semi-mortos, um enfermeiro ri enquanto segura um paciente. É desumano e imoral! 
Apesar da luta antimanicomial, acreditem, ainda existem clínicas como esta. O preconceito contra o doente mental é enorme, e não pense que este não é um problema seu! Não diga que não é da sua conta! Porque é sim! Existem hospitais psiquiátricos que recebem dinheiro do SUS para fazer exatamente isso daí. E se você acha que não tem nada a ver com isso, então não exija um Brasil melhor porque você não tem esse direito. O que eu entendo por um Brasil melhor é que todos tenham seus direitos respeitados, que tenham acesso à educação, saúde de qualidade, moradia e respeito. Tudo que foi negado aos pacientes deste fatídico hospital, e mais outros tantos espalhados pelo país afora.
Gostaria que este texto, ou este documentário chegasse nas mãos do Sr. Deputado Jean Wyllys que é quem realmente se mostra preocupado com os Direitos Humanos. Gostaria que as pessoas também se manifestassem contra essa imoralidade. Gostaria que as pessoas pensassem em como é ser tratado como lixo, esquecido, ficar à margem da sociedade.
Quem esta doente afinal?

"Hospital Psiquiátrico Prof. Adauto Botelho - Goiânia, Goiás, Brasil
 Construído e inaugurado em 1954 sob iniciativa do  professor de psiquiatria Adauto Botelho então chefe do Serviço Nacional de Doenças Mentais e que viabilizou recursos financeiros junto ao Governo Federal para a construção de oito hospitais no Brasil. Este hospital foi fechado e demolido em 1997 , porém os erros do passado não podem e não devem ser apagados da memória, pois contrariam os Direitos Humanos daqueles que sofrem de transtornos psíquicos e por isso foram condenados ao confinamento, a exclusão e a miséria absoluta."


Cotação: 5 estrelas.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Como assisto os filmes?


Algumas pessoas me perguntam: "Lidiana como você faz para assistir esses filmes? Não acho em lugar nenhum!" Pois é, realmente são filmes raros que não são encontrados facilmente em qualquer videolocadora ou blog.
Optei por escrever sobre filmes "não comerciais", porque sites e blogs com dicas sobre filmes que estão lotando as salas de cinema é o que mais tem, por isso decidi pesquisar mais sobre o cinema de outros países e tenho tido gratas surpresas.
Quando tomei essa decisão travei uma batalha árdua. Pesquisei muito blog, muito site até encontrar o que eu realmente estava procurando. Linkei aqui, mas algumas pessoas estão com dificuldade de visualizar os dois blogs que frequento, por isso, vou deixar aqui o endereço e vocês já podem ir direto para os blogs.
Bem, eu só assisto filmes do Toca dos Cinéfilos que é um blog em que você pode assistir os filmes online sem precisar baixá-los. São só filmes alternativos, super recomendo!
O outro blog é o Sonata Première que também só tem filmes alternativos, do mundo inteiro, no entanto você vai precisar baixá-los. Lembrando que os filmes de ambos os blogs têm ótima qualidade e já vem legendado.
Espero tê-los ajudado! Aproveitem!

Beijos!

Desapego: Dilacerante



O professor Henry (Andry Brody) consegue uma substituição em uma escola de periferia para lecionar aulas de literatura inglesa. Durante esse período, Henry tenta lidar com seus traumas de infância, seu avô doente, uma estudante com problemas, uma professora e uma jovem prostituta.
Filme americano de 2011 dirigido por Tony Kaye (A Outra História Americana).

"E nunca me senti tão profundo, e ao mesmo tempo tão alheio de mim e tão presente no mundo."

Albert Camus - Filósofo Francês e Escritor

É com esta frase magnífica que começa o filme. O início devo confessar é meio lento, o diretor fez uma espécie de documentário com algumas pessoas revelando suas razões para terem escolhido o magistério. Pensei ser mais um filme que assisti durante o curso de pedagogia em que o professor chega em uma escola decadente e salva a pátria. Algo que para mim sempre foi tão clichê e surreal porque pode parecer um pensamento pessimista meu, mas como pedagoga nunca me vi como uma heroína de filmes como: Escritores da Liberdade, O Sorriso de Monalisa, Sociedade dos Poetas Mortos, e por aí vai. Tudo bem, são filmes inspiradores, mas não é preciso estar dentro da sala de aula para saber que a realidade é bem diferente, e eu enquanto estudante pensava: "se eu conseguir salvar uma alma, já me dou por satisfeita."
No entanto, Desapego me surpreendeu, assim como A Outra História Americana (outro filme magnífico, que eu recomendo), será este um dom de Tony Kaye? Surpreender?
O filme não é sobre um professor herói. É sobre um professor que se preocupa com seu trabalho, com seus alunos, que ajuda até mesmo uma garota de programa a sair das ruas, e além de seu avô, talvez ela tenha sido o único elo afetivo de Henry, mas como diria uma canção de Fiona Apple "eu também tenho meu próprio inferno para cuidar".
Andry Brody que venceu o oscar pelo filme "O Pianista" esta soberbo no papel de Henry. Aliás, devo salientar que gosto muitíssimo dele, e ele fez um professor com um olhar triste, o olhar de Henry foi o que mais me impressionou.


O mais interessante é que não é somente Henry que tem problemas pessoais. O corpo docente inteiro. Estão todos cansados, eles explodem, viciam em calmantes, tem problemas conjugais, e enquanto isso é mostrado, Henry vai fazendo uma análise da vida, da profissão, da complexidade que é lidar com os problemas dos outros e não conseguir resolver sua própria vida. De se doar, querer o melhor dos alunos e não escutar: "obrigado".
Não é que eles não amem a profissão. Muito menos Henry. O que vi foi o cansaço batendo à porta, o esquecimento do "eu", a decepção por não conseguir, os problemas pessoais interferindo no lado profissional. Sempre escutei minhas colegas de classe dizerem: "os alunos não têm culpa". E de fato não têm. Mas os professores são humanos e têm uma vida e Tony Kaye soube mostrar isso de forma sensível, poética e tristemente lindo em um roteiro belíssimo.

Link para assistir online: Desapego



Cotação: 5 estrelas

terça-feira, 11 de junho de 2013

Faroeste Caboclo: O que fizeram com Santo Cristo?



"Não tinha medo o tal João de Santo Cristo era o que todos diziam quando ele se perdeu/ Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda/Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu."
Estes são os primeiros versos da obra-prima do rock nacional cantada pela Legião Urbana (considerada por mim a maior banda de rock brasileiro de todos os tempos).
Não é preciso fazer a sinopse do filme, creio que todos já conhecem a canção e o filme foi justamente inspirado nela. Um projeito audacioso de René Sampaio, afinal, se já é difícil fazer uma adaptação de livro para os cinemas, imaginem uma canção que marcou época? Uma música que foi censurada por causa "do general de dez estrelas que fica atrás da mesa com o cu na mão?'' (É brincadeira!Claro que a música não foi censurada SÓ por isso.) 
Mas vamos ao que interessa. Foi extremamente difícil para mim assistir ao filme porque como legionária, eu não estava completamente certa se eu conseguiria separar a tietagem do meu lado cinéfilo. Impossível para um fã da Legião assistir à obra e em alguns momentos não se lembrar de trechos da música. "Logo, logo os malucos da cidade souberam da novidade!"
Boa parte do elenco é desconhecida. Talvez a mais conhecida seja Ísis Valverde que além de linda gostei bastante da carga dramática que ela depositou na Maria Lúcia, mas quem roubou realmente a cena foi Fabrício Bolivei ia que faz o herói João de Santo Cristo. Atuação incrível! Olhar expressivo, às vezes cheio de ódio e revolta, às vezes cheio de paixão por Maria Lúcia, às vezes meio ingênuo com seu primo Pablo. Grande ator!
  O filme baseia-se na Brasília dos anos 80 e eu senti falta de mais músicas dos anos 80. Creio que a trilha pecou nesse aspecto, aliás tem muita música instrumental, desnecessário para um filme de ação misturado com romance e drama.

"Maria Lúcia era uma menina linda e o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu"

A adaptação deu certa? Não para mim. O roteiro foi falho em um aspecto muito importante. Tudo bem que a película não precisa ser idêntica à música, é uma inspiração, sei bem disso. Mas o roteirista pegou como essência do filme o romance entre Maria Lúcia e João de Santo Cristo, e deixou de lado fatores importantes que a canção denuncia como: racismo, corrupção, ou seja, isso na verdade ficou como pano de fundo para uma história de amor à la Romeu e Julieta.
Faroeste Caboclo é uma música de denúncia por isso ela foi censurada na época. E esse filme pode ser tudo, menos uma denúncia. Infelizmente a essência principal do que escreveu Renato Russo foi deixada de lado.


"Violência e estupro de seu corpo, vocês vão ver eu vou pegar vocês!"


Cotação: 3 estrelas

domingo, 2 de junho de 2013

Na Terra de Amor e Ódio: mais uma ousadia de Angelina Jolie


Ajla (Zana Marjanovic) e Danjel (Goran Kostic) iniciam um romance em uma boate que é bruscamente interrompido por uma explosão. Era o início da guerra na Iugoslávia. Ajla é capturada já que era bósnia e Danjel, sérvio, entra para o comando do exército. Ajla então, torna-se sua protegida, já que todas as prisioneiras eram constantemente estupradas pelos soldados. Inicia-se assim uma perigosa paixão em meio ao caos da guerra.
Drama de 2011 dirigido e escrito por Angelina Jolie.
Quando eu soube que Angelina Jolie estava dirigindo um filme, fiquei bastante curiosa porque devo confessar, não gosto dos filmes que ela faz e não gosto dela como atriz. Muito se discute o talento de Jolie pelo fato dela ter ganhado o Oscar de melhor atriz coadjvante pelo filme Garota Interrompida de 1999, bem, particularmente o Oscar deixou de ser uma premiação séria há muito tempo! Para mim, é simplesmente uma festa em que premiam-se os melhores filmes, atores, diretores, etc, americanos, e sinto informar caro leitores, mas o cinema não se restringe a Hollywoody! E é por esse motivo que você que acompanha meu blog quase não vê filme americano por aqui. Porque o meu propósito é mostrar exatamente o que é desconhecido pela maioria, que esta fora dos padrões.
Outro fator que fez com que Angelina Jolie ganhasse o Oscar, é que a personagem que ela interpretou não é muito diferente da garota que ela era. Hoje a Senhora Pitt é uma mulher engajada em causas sociais, mãe de vários filhos, mas a Lisa de Garota Interrompida não é bem diferente do que foi Angelina. Garota rebelde, tatuada, usava drogas, declarou-se bissexual, então, qual é o mérito de interpretar a si própria?
Mas vamos falar do filme. Enquanto eu assistia Na Terra de Amor e Ódio, me senti em uma corda bamba, o roteiro é bastante fraco, algumas cenas são interrompidas bruscamente e eu não senti química entre o casal Ajla e Danjel. Aliás, devo dizer que Zana Marjanovic parecia indiferente aos horrores que aconteciam ao seu redor, uma atriz bastante inexpressiva para uma personagem que exigia mais dramaticidade.
Outro ponto que me deixou temerosa por Jolie: o filme tem duas horas e sete minutos de duração. A primeira hora passou tranquilamente, na segunda hora pensei: "será que ela vai conseguir amarrar essa história em um filme tão longo?" Ok. Conseguiu. Ponto para ela.


Outra coisa que chama atenção é a fotografia, e sim Angelina conseguiu mostrar todos os horrores da guerra. Aliás, devo salientar que esta parecia ser sua função, não houve uma preocupação maior com os diálogos que por vezes chegavam a ser pueris.
O saldo final é: para um primeiro filme, não é de todo ruim. E eu torço muito para que este seja o primeiro de muitos projetos dela, ou seja, Angelina: sai da frente das câmeras, porque atrás você fica melhor! E nós precisamos de mais mulheres nesse meio! Fica a dica!

Cotação: Duas Estrelas